O TORDILHO - POEMA

Apenas me avisaram,
O seu! É o tordilho e parece estar machucado.
Olhei seus olhos, eles desviaram dos meus.
Tentei acariciá-lo, sua pele fugia de minhas mãos.
Pensei não ser possível e,
Quando virei ele me olhou,
Acho que de cima em baixo.

Falaram,
Ele é arisco, ele é desconfiado, ele é medroso.
Entendi seus olhos,
Olhos de quem não pode ser compreendido,
Medo do que esta por vir,
Uma genética que o afasta do ferro e o aproxima do etéreo.
Esse! Uma fênix em forma de cavalo.

Mas sua genética é de macho.
Suas orelhas são da brisa,
Sente a aproximação da mão que fere,
Tenta ignora-la, mas não consegue aceitar.
Alertaram,
Essa linhagem só da cavalos nervosos.
São medrosos demais.
Não temos tempo pra isso.

O padrão da mente humana tenta estabelecer parâmetros,
A comprennsão e o preconceito se instalam,
Sua alma esta por morrer,
Seus medos estão por crescer e,
Sua vida vai de mão em mão.
Objeto de troca.
Mãos humanas,
Mãos imprevisíveis.

Suas cicatrizes acabam por acompanhá-lo,
Chanfrado, cortado por ferros,
Pernas marcadas por cordas e,
As orelhas,
Ainda tentam sobreviver.
São agarradas facilmente desde pequeno,
Mas agora esta grande,
Não quer mais que a peguem,
É onde sua alma reside.
Entrega-la?
A apenas um homem,
Com alma e olhos que enxergam,
O que não se vê.

O tordilho vai clareando,
Suas costelas começam a desaparecer,
Sua fome vai acalmando,
E seu corpo começa crer.
Mas o homem não tem tempo.
Ele é de outro tempo.

Sua idade vai avançando,
Num tempo que tentam cronometrar
Sua alma não quer o tempo,
Mas a brisa que chega,
Acorda.

Espera que o alimento não falte,
Vai comendo o tempo presente,
Sua alma pede carinho,
Sua boca pede caminhos.
Perdeu a referencia cedo,
Não sabe mais o que comer.

O tordilho vai clareando,
Vê uma luz num canto quadrado,
Mas a luz vai embora cedo,
Procura para ver onde ela foi...

Encontra seu destino nas diferenças e,
Cria seu mundo à parte,
Numa estrada que vai a frente,
De sua pele escura e cicatrizes,
No claro pêlo de seu tempo passado
Quando lembra de um carinho inesquecível,
De uma palavra de afeto,
De uma aproximação vagarosa,
De uma corda que não machucava,
De um contato de olhos,
Que um homem trocou,
Seu tempo pela compreensão,
E aproximaram suas respirações,
Seus passos e seus destinos.
O homem numa alegria sem tempo,
Ele numa confiança de espírito.

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